sexta-feira, 30 de abril de 2010

Entrevista da Gaga para a Revista Bizz!

Confiram abaixo uma recente entrevista da Gaga para a revista ‘Bizz’!

Lady GaGa Gaga (4)

Em uma entrevista mais reveladora que suas roupas, a cantora admite que é controladora, acha que não é entendida nos EUA e diz que suas inspirações vão de Bowie a Brecht

Por: Kim Bornstein/The Interview People

Você começou a tocar piano cedo, aos 4 anos. Já sonhava em se tornar uma estrela naquela época?

Não sei o quanto você pensa quando em apenas 4 anos… Você simplesmente faz as coisas. Sempre senti uma inclinação natural pela música, por criar e contar histórias. Acho que talvez possa dizer que sempre foi meu destino tornar-me uma artista. Só não sabia ainda que tipo de artista.

Quem foram seus grandes ídolos?

Minha mãe. Amo minha mãe. Ela é inteligente, bonita e muito poderosa, mas ainda assim respeita as pessoas. Ela é um bom exemplo pra mim.

Mas e na música e nas artes?

Amava tantas pessoas quando era pequena, desde [a atriz] Judy Garland até [a cantora dos anos 70] Carole King, David Bowie e Madonna.

Você alguma vez já sentiu que nasceu tarde demais, por causa de todos os artistas que não pôde conhecer Gente como Freddie Mercury?

Acho que, de certa maneira, eu conheço, sim. É interessante você mencionar isso, porque só recentemente na minha vida comecei a me envolver com pessoas que conheceram esses artistas. Então acho que dá para dizer que achei um jeito de conhecê-los da minha própria maneira.

Já se encontrou com Bowie?

Não, ainda não. Bowie… Ele é cool. È tão inteligente. Se, quando chegar aos 50, eu souber metade do que ele sabe, estarei feliz. Ele é bom demais.

E [a cantora experimental e artista multimídia] Laurie Anderson?

Ah, sim, amo a Laurie Anderson. Eu era fascinada com artistas mais antigos, não muito com os modernos. Na verdade, minha escola ficava cinco quarteirões do [museu] Guggenheim e do Metropolitan Museum. Então eu ia direto lá e via [obras dos artistas] Pollock, Warhol, Lichtenstein e Brancusi. Vi a exibição de Picasso/Matisse quando ela veio para Nova York. Eu simplesmente amo arte, sou uma nova-iorquina genuína.

Então você cresceu na região do Central Park East…

Não, West. Cresci do lado oeste do parque, mas minha escola ficava do lado leste, então eu meio que aproveitava o melhor de ambos os bairros. Os museus do lado oeste eram os de história natural, falavam de estrelas, ossos, dinossauros. E do lado leste ficavam as artes clássicas e moderna. É uma região muito cultural.

O que você aprecia no trabalho do [escultor romeno vanguardista Constantin] Brancusi?

Ele é incrível. É um excelente exemplo de como você pode evocar uma idéia com algo muito abstrato. Adoro os pássaros que ele fez. São tão frágeis. E mas ao mesmo tempo pesados. E alguns dos materiais que ele usou não têm nada a ver com aves. São feitos de mármore, algo pesado, mas, de alguma maneira, alçam vôo quando você olha para eles.

Acha que esse é o princípio do seu trabalho: mostrar fragilidade, mas também poder?

Acho que sim. Tenho uma ambição muito forte. Mas eu gosto de dizer que, no núcleo de todo verdadeiro artista, há um coração partido.

O nome da sua equipe criativa é Haus Of GaGa. Isso é uma referência à [revolucionária escola de design alemã] Bauhaus?

Ah, sim, a escola de arte. É quase uma piada, de certa maneira – o fato de sermos jovens, porém muito mandões, seguros de nós mesmos. Temos reuniões com aqueles diretores superpoderosos de em Hollywood, gente que já fez clipes gigantescos para superestrelas ], aí chegamos e dizemos: “É assim que nós queremos que seja feito”.

Esse jeito controlador explica por que você gosta de escrever suas próprias músicas?

Quando estou compondo, tenho um processo bastante crítico. Algumas letras são mais intricadas do que outras. E o mesmo vale, visualmente, para o meu show. Eu abordo tudo com um olho conceitual artístico crítico. Da mesma maneira que falo de Brancusi, lido com as decisões a respeito da minha turnê.

Qual é sua obra de arte favorita?

De todos os tempos? Putz. Para ter, para comprar, não sei se há muitas realmentes boas. Adoro aquela Pietá que [o fotógrafo] David LaChapelle fez com Courtney Love. Realmente amo aquele quadro. Também adoro os silk-screens de Andy Warhol. Seria uma honra ter qualquer um deles. Mas também gosto muito de arte clássica. Amo a Odalisca, do [pintor francês Jean-Auguste] Ingres. Lembro que, quando a vi pela primeira vez, chorei. Acho que senti uma certa relação com a mulher naquela quadro. Ela está com suas costas voltadas para o público. Ela é meio tímida, mas ainda assim está muito exposta. Ela é uma prostituta e, para mim, havia uma certa relação entre a minha vida e essa figura. Alguém considerada a provocadora e inapropriada, mas imortalizada como um ícone. Acho interessante que artistas sempre sejam aqueles que têm um verdadeiro olhar para identificar o que é luminoso. Eles apreciam coisas que são lindas e que talvez outras pessoas simplesmente não enxergam.

Você abandonou a [escola de arte] Tisch School porque achou que não conseguiria se formar ou porque acho que já estava muito além do que poderia aprender lá?

Eu fui embora porque…[pausa] achei que talvez não conseguiria me dar bem se permanecesse lá.

Como assim?

Acho que você não pode repousar nos louros do seu ambiente pela vida toda. Você não pode ser uma vítima, um produto do seu ambiente. É preciso saber o que é certo para si. Eu já estava pronta para fazer arte, não aprender sobre ela. Sentia que, em todas as aulas, sempre tinha mais a dizer sobre cada peça exposta do que meus colegas. Sempre conseguia enxergar mais longe que qualquer um. Não digo isso para ser arrogante, eu simplesmente tinha uma intuição, então segui em frente.

É por isso que você gosta de trocar regularmente os membros de sua equipe criativa?

Faço isso ás vezes. Depende. Há pessoas que são peças fixas, vão ficar comigo para sempre. E há algumas que a gente vai trazendo e avaliando… Para mim, não há um limite, um parâmetro. Posso ficar acordada por dias e dias, e o trabalho me mantém viva. E gosto de estar ao redor de colaboradores que também são assim. Gente que que vive e respira o projeto. Se o cara não é desse jeito, então tchau.

A atriz Bette Midler reclamou recentemente que o movimento feminista está em decadência. Você concorda?

Amo Bette Midler. Mas, o movimento feminista em decadência? Não diria isso. É só um reflexo do que está acontecendo agora. Lido com isso o tempo inteiro na minha carreira. Sou criticada por motivos que jamais são criticados em artistas do sexo masculino. São exigências completamente diferentes para cada gênero.

Como o quê, por exemplo?

O que eu visto. Ou ser critica por ser talentosa. Ou por não ser talentosa, e ser arrogante. Se você é uma mulher que tem autoconfiança, dizem que é arrogante. Ou uma vaca. Enquanto que, se fosse um homem, diriam que você é forte, confiante. É engraçado que você tenha mencionado isso, porque sofro muitas comparações. Pessoas próximas de mim vêem o tipo de relação que tenho que com meu público. É muito teatral, engraçada. Tenho um espírito alegre, meio cabaré. Nos EUA e na Inglaterra, onde o cabaré não e uma forma de arte reconhecida, quando canto desse jeito, as pessoas não entendem. É um pouco confuso.

Onde você costuma escrever suas canções? Tem um ritual específico?

Não. Ela surgem em todo lugar. Às vezes, estou no chuveiro. Às vezes, ouvindo música ou tocando piano. Ou posso estar almoçando e ouço alguém dizer algo e penso “hum, isso daria uma boa letra!” A inspiração vem de tantas formas. A coisa mais poderosa que aprendi ao longo dos anos é como criar a vida para mim mesma, de modo que, quando bate a inspiração, posso agarrá-la com unhas e dentes, trabalhar naquilo sem deixá-la escapar.

Você escreveu para as bandas New Kids on the Block e Pussycat Dolls. Obviamente você tem experiência em compor.

É preciso se comprometer. Para mim, canções como Just Dance ou Poker Face são fáceis de escrever. Mas tive que realmente sentar e escrêve-las.Não aacho que dá para compor um hit preguiçosamente. É preciso pensar e se dedicar. Por exemplo, se vou falar sobre o amor com uma aposta, o que isso te a ver com… roleta? Roleta lembra roleta-russ, que lembra morte… Oras, isso é dramático, então vou escrever sobre isso” Sei lá, é todo um processo [risos].

No passado, você comôs para Fergie e Britney Spears. Elas foram exemplos para você?

Não. Não costumo me espelhar em artistas contemporâneos. Prefiro os antigos. Porque, quando você foca muito um cantor atual, se torna igual a ele. É preciso encontrar a si mesmo. Sempre fui fascinada pela idéia de reviver um senso de nostalgia. Não acho que seja como uma artista do passado, mas fui, sim, influenciada por eles.

Livros a inspiram?

Adoro [o dramaturgo alemão] Bertolt Brecht. É muito exposto. Tenho até uma piada nos ensaios… se não temos muito espaço nos bastidores e precisamos deixar algo no placo o tempo todo, digo “tudo bem, isso é muito brechtiano”.

Houve alguma canção especificamente inspirada por algum livro?

Toda a minha música foi inspirada pelo [poeta checo Rainer Maria] Rilke, porque ele dizia que você não deve pedir conselhos a outras pessoas sobre sua arte, sua música, sua poesia. Fiquei muito boa nisso. Quando escrevo algo e digo “vai ser um hit”, e as pessoas dizem “ não, não vai ser”, eu insisto. “Estou e dizendo: eu entendo de música, e essa aí é uma faixa de sucesso.” É preciso ter certeza sobre o seu próprio trabalho.

É verdade que você tingiu seu cabelo para não ser confundida com Amy Winehouse?

Sim… Meu nariz se aparece com o dela… bem. Não é uma coisa ruim. Acho Amy linda. Não a conheço, mas gosto muito dela. O problema é que, quando você está tentando criar sua própria imagem para o mundo, precisa de diferenciar. Eu nem havia sido contratada por uma gravadora ainda, estava cantando em bares… E aí Amy estourou e, de repente, bum, todo mundo estava usando cabelo escuro. E eu costumava ter um cabelão e usava muito lápis de olho. Até antes de ela fazer sucesso. Mas aí ela bombou e pensei “merda”. Fui e tingi meu cabelo.

Uma pena o que aconteceu com ela, os problemas com drogas…

Não sei. Eu sou muito focada no que faço, mas não tenho nenhuma opinião sobre o que as outras pessoas fazem ou deixam de fazer.

Onde você mora?

Estou vivendo bem aqui neste momento. Eu moro no palco.

Você não tem uma casa?

Não, não gasto meu dinheiro com essas coisas. Vivo a partir da minha mala. Faço música e arte e gasto todo dólar que ganho no palco.

Qual é a imagem mais nítida que você tem da sua infância?

Comida na mesa da cozinha, meu pai e minha mãe, água Perrier, limões, molho vermelho, vinho e muito Andrea Bocelli.

Você ouvia Andrea Bocelli?

Sim. Bocelli, [Frank] Sinatra, La Bohéme… Meus pais eram bastante tradicionais. No bom sentido. Acho que isso acabou me dando um senso muito forte de valores familiares.

Você pensa em ter sua famíllia?

Eu ainda não anseio por seu mãe. Mas acho que sou uma pessoa muito sensível, e para mim, família é muito importante. Conforme eu vou alcançando o sucesso na minha vida, penso em como posso incluir minha própria família. Meus valores são muito italianos [risos].

O que você faz para relaxar?

Eu simplesmente durmo.

Não viaja?

Às vezes. Mas não recentemente. Quer dizer, eu viajo o mundo, mas a trabalho. Para relaxar, durmo ou vou a museus. Acabei de ir ao Museu Warhol [em Pittsburthg, EUA] semana passada.

Mas o que você gosta de fazer em seus dias de folga?

Bom, não tenho muitos dias assim. Os domingos sempre foram os dias em que minha família fazia comida fresquinha. Então, às vezes, gosto de me permitir comer o que quiser aos domingos. No resto da semana, estou em uma dieta de estrela, bem rígida.

Pouco carboidrato?

É. Não como pão, por exemplo. Só salada e peixe, que é bem saudável. É muito melhor para mim.

Tira uma soneca depois?

Não… Não tenho para isso!

Mas e quando você está em casa?

Não fico em casa faz mais de um ano e meio! [risos]

Isso é terrível?

Não, não é! Amo o que faço. Trabalhei a vida inteira para que pudesse viver esse momento.

De onde você tira essa energia?

Da alegria, e do amor pela arte. E das minhas visões. O que me faz feliz é quando visualizo algo novo. Quando vejo algo na minha mente, é como se fosse um “uau, isso vai ser ótimo! Nossa, vai ser incrível”. Estou contente com o que faço. Minha solidão me faz feliz.

Sua solidão?

Sim. Tenho uma equipe incrível que me ajuda. Não faço nada sozinha, não é isso que eu quis dizer. Só quis dizer que escolho estar feliz com a minha companhia. Tenho fé em minha mesma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário